O roteiro da história do hambúrguer no Rio de Janeiro daria um filme, desses que narram uma surpreendente trajetória de sucesso. Um americano chamado Robert Falkenburg, tenista consagrado, ganhador do torneiro de Wimbledon, chega ao Rio de Janeiro em 1950, tendo o esporte como atividade principal. Mas Bob, como era conhecido, resolveu empreender: em 1952, importou dos EUA máquinas modernas para fazer sorvete, e abriu o Bob’s, na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana. Pouco tempo depois, ampliou o cardápio, e passou a servir também sanduíches. O maior destaque eram os hambúrgueres, que começavam a ganhar fama no mundo ocidental, depois da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos passaram a exercer uma grande influência. Nascia, assim, a primeira hamburgueria do Brasil.
Sabe-se que já havia bares e restaurantes que serviam o sanduíche, mas como item do cardápio, e não o seu carro-chefe. Eram feitos na cozinha, como qualquer outro petisco ou prato. Depois da inauguração do Bob’s, não demorou para que o hambúrguer caísse no gosto dos cariocas. Logo,, começaram a surgir muitas casas especializadas em fast food, algo que também virava febre na América do Norte, com a explosão do McDonald’s (vale lembrar que, embora a marca tenha nascido em 1940, na Califórnia, a rede só começou a se expandir a partir de 1948, quando se estabelece definitivamente o conceito de fast food, um serviço de comidas rápido e padronizado).
No Rio, a chegada do hambúrguer foi muito mais do que um modismo passageiro. Várias marcas foram criadas a partir daí. São lugares que deixaram saudades nos cariocas, pois todos esses clássicos nascidos nos anos 1960 e 1970 já fecharam as portas, após anos de sucesso. Eram casas que serviam, além de burgers, hot-dogs, ham steaks, sundaes, milk-shakes e banana splits, além de fritas, panquecas e waflles. Crescia o consumo de refrigerentes e sodas. Os mais antigos se lembram bem de nomes como Chaplin, Gordon, Chaika, Mustang e Pop’s, todos com cardápio americano, e especializados em burgers.
Dessa turma, o Chaika foi o último a fechar as portas, depois de um incêndio, em 2012, exatamente 50 anos depois de sua inauguração – também em 1952, assim como o Bob’s. (Uma curiosidade: durante as gravações de “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional no início do ano, a Confeitaria Manon, no Centro, teve sua decoração mudada para se parecer com o Chaika, lugar frequentado pela família Paiva).
As décadas de 1950, 1960 e 1970 foram um período fértil para o surgimento das primeiras lanchonetes e hamburguerias no Rio de Janeiro, inspiradas no modelo americano. Marcaram gerações de jovens da Zona Sul.
Até que, assim como o Bob’s, novamente em Copacabana, a cidade ganhou o maior nome desse universo. No dia 13 de fevereiro de 1979, na Rua Hilário de Gouveia, 74, a cerca de dez quadras do primeiro Bob’s, abria as portas o primeiro Mc Donald’s, não apenas do Brasil, mas de toda a América do Sul. A loja está lá até hoje, em pleno funcionamento, ainda que modernizada. Um marco da cultura gastronômica do Rio, e do continente.
E para os apreciadores, vale conhecer não apenas as casas que começaram essa história, mas quem segue marcando a gastronomia carioca com excelentes opções de hambúrguer, confira a lista aqui, até porque, amanhã é dia do hambúrguer.