Desde o plantio das primeiras mudas da Região Sudeste do Brasil até as cafeterias mais modernas, uma deliciosa trajetória.

Hoje é o Dia Nacional do Café. O dia 24 de maio foi a data escolhida porque é nesta época que começa a colheita nas principais regiões produtoras. A cidade do Rio tem uma ligação histórica com o grão, que foi o principal motor econômico do Brasil nos séculos 18 e 19.

Olhando hoje para as encostas verdejantes da Floresta da Tijuca é difícil imaginar que aquilo tudo um dia já foi um imenso cafezal, onde havia fazendas com pastos e plantações de frutas. Sim, a maior floresta urbana do mundo não é natural, apesar de ser composta por plantas nativas da Mata Atlântica. Foi inteiramente replantada por 11 escravos no final do século 19, dando origem à paisagem que vemos hoje. Hoje restam ruínas das sedes dessas propriedades rurais, além de resquícios de carvoarias que queimaram as árvores originais, e outros vestígios desses tempos.

O café fazia parte da vida social e econômica do Rio ao longo de todo o século 19 de várias formas. Além das muitas plantações que havia na cidade, ocupando não só as encostas, mas vastas planícies em bairros como Tijuca, Botafogo, Inhaúma e Campo Grande, muitas das construções mais belas e suntuosas foram erguidas com o dinheiro gerado pelas exportações.

As maiores propriedades ficavam nas zonas Norte e Oeste, incluindo Irajá, Engenho Novo, Jacarepaguá, Santa Cruz e Guaratiba. Essas regiões eram repletas de sítios, engenhos e fazendas, muitos deles voltados para a produção de café, cana-de-açúcar e alimentos para abastecer a capital. Há vários registros históricos dessas atividades, incluindo pinturas e ilustrações que agregam valor histórico e artístico.

Os barões do café, da região de Vassouras e arredores, tinham mansões urbanas no Rio. Eram verdadeiros palácios, literalmente. Como o Palácio do Itamaraty, no Centro da cidade, que foi erguido por Francisco José da Rocha, que enriqueceu através do plantio e comércio de café. Hoje Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty, o prédio pode, e deve, ser visitado.

Além de estarem inseridos no contexto político da época, próximos da corte, esses empresários tinham interesse estratégico nessa área. Pois era dali, no Porto do Rio, que era escoada a produção de café para o mundo. Isso explica porque o Rio tinha dezenas de torrefadoras de café, que recebiam os grãos produzidos no interior, e mesmo na cidade, para processá-los antes de exportar, principalmente para a Inglaterra, o maior parceiro comercial do Brasil no século 19. Esse movimento trouxe grande prosperidade para a cidade, e ajudou a financiar obras urbanas, a chegada de imigrantes que participavam das negociações, tendo enorme influência no desenvolvimento de instituições culturais.

Isso também fez nascer na cidade uma tradição que se mantém até hoje: as cafeterias se espalharam pelo Centro, e eram importantes pontos de encontro, e convívio social. Muitas dessas empresas de torrefação tinham elas mesmas as suas lojas, onde serviam o café produzido por eles. Ainda que tenha sido fundado em 1943, o Café Capital, que ainda mantém loja na Avenida Marechal Floriano, é um bom exemplo disso (em breve vão abrir mais uma unidade, na Rua Senador Dantas, perto da Cinelândia). O mesmo vale para o café Palheta, na Tijuca.

Uma curiosidade: o nome “Café Palheta” é uma homenagem ao sargento-mor Francisco de Melo Palheta, que foi responsável por trazer as primeiras mudas de café para o país, em 1727.

Para viver um pouco dessa época, tendo o café como fio-condutor do passeio, o Centro do Rio é um prato cheio. Podemos imaginar decisões sendo tomadas em relação às exportações de café em alguns dos principais centros culturais da cidade, começando pelo Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty; o Paço Imperial, antiga sede da monarquia no Brasil e o Museu Histórico Nacional, onde a história do período é contada (no momento, esse está fechado para obras). Também são pontos de interesse nesse sentido a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé (ao lado do Paço), que era frequentada pela Corte e pela elite, incluindo os barões do café. Nesse contexto, o Cais do Valongo, Patrimônio Mundial da UNESCO, ponto de chegada dos escravizados, e toda a Região Portuária, apresentam grande valor histórico. Vale lembrar, ainda, que a História diz que as primeiras mudas de café no Rio de Janeiro foram plantadas no antigo Convento dos Capuchinhos, localizado na atual Rua Evaristo da Veiga, onde hoje está o quartel da Polícia Militar. De lá saíram para iniciar as plantações na cidade do Rio, e no interior, incluindo o Estado de São Paulo. Isso teria acontecido em 1780. E, assim, iniciou-se o Ciclo do Café, que a rigor, com tantas mudanças, continua até hoje girando a economia brasileira e carioca.

Para encerrar essa conversa, o melhor a se fazer é beber um café. Nesse post aqui temos dez sugestões de lugares ótimos para se fazer isso, que representam muito bem a nova safra de cafeterias cariocas.

São 245 anos de história misturando Rio de Janeiro e café. Mas, que CIDADE DELICIOSA é essa!