A feijoada é uma das principais receitas da culinária tradicional do Rio.
Existem lugares que servem o prato todos os dias, como especialidade da casa, como é o caso do Bar do Mineiro, em Santa Teresa, e da Academia da Cachaça, no Leblon, e a Casa da Feijoada (óbvio), em Ipanema. Outros, sevem apenas em um ou dois dias na semana, geralmente às sextas e/ou aos sábados, como a que é servida na Churrasqueira, em Ipanema, feita com feijão vermelho, como é mais comum em Minas, origem do restaurante, que traz suas linguiças de Juiz de Fora.
Ligada de modo umbilical ao mundo do samba, as escolas costumam a servir suas feijoadas ao longo do ano, para reforçar a ligação com as comunidades, e para financiar as instituições momescas. Pode ser encontrado em feiras de rua, como na Glórias, e nos mais elegantes hotéis da cidade, como o Copacabana Palace e o Fairmont.

Feijoada da Casa da Cachaça
Comer uma feijoada no Rio é um programa tão turístico quanto ir a uma churrascaria rodízio, ambos também adorados pelos cariocas. O feijão amigo, aquele caldinho espesso, e aveludado, é companheiro da boemia em quase todos os botequins cariocas, incluindo aqueles com chefs famosos por trás, como o Tin Tin, de Rafa Gomes; o Princesa, de Pedro de Artagão; os dois no Leblon, e o Jurubeba, de Elia Schramm, em Botafogo.
Mas, melhor ele fica quando é feito com o que sobrou da feijoada do dia anterior, que é o caso do “milk shake”, já famoso da Casa Porto, no Largo de São Francisco da Prainha, no Centro. O nome irreverente se dá por conta da textura, praticamente um veludo, um creme espesso feito com a raspa da panela da feijoada vermelha (servida de sexta a domingo). O petisco, finalizado com couve refogada e torresmo crocante, foi criado para os festejos de São Jorge, no ano de 2024, e ficou no cardápio. Digno de tombamento, em breve, no dia 23 de abril, completa um ano.

Feijão amigo, "milkshake", da Casa Porto
Outra novidade do ano passado é a feijoada seca, do botequim 5ª Categoria, criado por Sergio Rabello, do Sat’s, ao lado de sua Adega da Velha, em Botafogo. Trata-se de algo muito simples, uma bela sacada do empresário: é um prato de sobremesa que traz apenas as carnes da feijoada, sem caldo, você pode escolher suas peças preferidas, inclusive pé, rabo e orelha, o trio de ouro das feijoadas:
“Se não tem pelo menos um desses três não é feijoada, mas feijão gordo”, costuma a dizer um dos maiores especialistas em botequins cariocas, o cantor e compositor Moacyr Luz. Concordo com o amigo.

Feijoada seca do boteco quinta categoria
O feijão gordo pode ser encontrado ainda em forma de pastel, como acontece no Bar da Gema, na Tijuca, e no Bar do Mineiro, em Santa Teresa – o primeiro a servir o petisco, até onde se sabe. São porções com 20 unidades, em estilo coquetel de festa, para serem comidos como pipoca, numa só bocada – ao contrário do Bar da Gema, que é praticamente uma refeição, como o creme de feijão e suas carnes encapsulado em grande formato de massa, estufada com tanto recheio.

Pastel de Feijoada do Bar da Gema
De todas as versões da feijoada que conheço, a mais surpreendente foi criada pelo chef Cezar Cavalieri, para o seu Bar Botica, em Botafogo: é a salada de feijoada, que fica exposta no balcão refrigerado, ao lado de outros petiscos, como a salada de língua com molho tártaro. Os grãos de feijão ‘al dente’ ficam na travessa de vidro, na vitrine, com as carnes desfiadas, couve resgada refogada e gomos de laranja. O menu muda sempre, e a salada de feijoada não está lá todos os dias.

Salada de Feijoada do Bar Botica
O mais famoso petisco com base na feijoada todos conhecem, e sabem onde nasceu: é em forma de bolinho, uma criação da chef Katia Barbosa, do Aconchego Carioca. Nascido em 2008 depois de uma viagem a Belo Horizonte, o petisco logo ficou conhecido nacionalmente, e passou ser servido em bares dos quatro cantos do país, inspirando novas formas de preparo. Em sua versão original, que pode ser encontrada também em casas como o Bar Kalango, em Botafogo, do qual ela é sócia, tem uma massa que é uma espécie de tutu mais grosso, com toque de polvilho para dar elasticidade, com recheio de bacon frito e couve refogada, ligeiramente empanado, com farinha própria para isso. É servido em porção com quatro, com batida de limão, gomo de laranja e torresmo, além de uma pimentinha da casa, como guarnições muito apropriadas.

Bolinho de feijoada de Kátia Barbosa
Em 2021 o petisco foi declarado Patrimônio Imaterial pela prefeitura do Rio, reconhecimento que à época foi muito festejado por Katita, que escreveu assim em seu perfil no Instagram (@barbosakatia), no dia 27 de outubro daquele ano:
“O bolinho de feijoada é nosso, Rio de Janeirooo!! Estou muito feliz com o reconhecimento que a gastronomia carioca recebeu ontem e que agora o bolinho de feijoada é um patrimônio cultural da cidade. Título que só coisa boa recebe, agora ele está ao lado do Cacique de Ramos, dos bailes charme e da Banda de Ipanema. Olha que honra! É um ótimo reconhecimento da luta de todos nós cozinheiros e donos de restaurantes, que às vezes parece nunca acabar! Ainda bem que, juntos, nós chegamos lá! ❤️ Obrigada a todos que consumiram, gostaram, serviram e divulgaram esse bolinho, de tal forma que se tornou uma marca carioca! A gastronomia do Rio está em festa com esse grande salto para nós cozinheiros!”
A receita original acaba de chegar também em Copacabana, no Bar da Frente:
– A gente que faz nosso bolinho de feijoada. Mas, a receita é da Katita, que ela mesma ensinou dentro da nossa cozinha, quando abrimos há quase 16 anos – diz Mariana Rezende, sócia do bar, que semana passada abriu as portas na rua Almirante Gonçalves, praticamente em frente ao lendário Bip Bip.
Agora, o bairro mais turístico do Rio também tem um bolinho de feijoada em versão original para chamar de seu.